Nos últimos tempos, a arte de contar histórias, vem sendo retomada, não apenas por terapeutas e educadores, mas por pessoas de todas as formações, de várias camadas da sociedade, que se reúnem para partilhar sabedoria, afecto e energia através das narrativas.
Para faze-lo, não há regras: o melhor é usar o coração e a intuição da experiência, que só se adquire através do tempo.
Em primeiro lugar, é preciso saber que contar histórias é um hábito popular, uma aproximação excessivamente académica e/ou sofisticada pode esvaziar o conteúdo emocional da narrativa, deixando o público pouco á vontade. Da mesma forma, deve utilizar-se a mente que, embora o acto de contar histórias possa inserir-se numa proposta terapêutica ou num projecto pedagógico, não se pode é de forma mecânica, apenas para cumprir um dever ou para ensinar o que quer que seja, de regaras gramaticais a valores doutrinários.
As histórias devem ser contadas, por e com prazer, caso contrário, nem vale a pena começar.
O background cultural do narrador e a sua familiaridade com histórias também são importantes, ao narrar um conto marcante, é muito mais importante conhecer e ser capaz de visualizar o cenário em que ele se desenvolve do que saber as palavras exactas.
Saber de onde vem a versão que se está a narrar, mas ainda mais importante, é saber trabalhar, criativamente, com elementos fornecidos pela narrativa, e ser capaz de levar o ouvinte a se identificar e interessar pela mesma.
A escolha do repertório, é fundamental para um contador de histórias, segundo SAWYER, mesmo os contadores mais experientes, encontram dificuldades com alguns textos e mais facilidade em outros, sugerindo então que se trabalhe com três tipos básicos de literatura popular (onde se incluem os cintos de fadas), contos literários e trechos de livros (SAWYER, 1990,pp 153).
A literatura popular, é a mais fácil de trabalhar, pois tem uma forma universal e uma estrutura narrativa e simples.
A literatura infanto-juvenil, continuará tendo a sua faceta mais atraente na literatura de tradição oral e mais propriamente de/os contos de fadas; mesmo para um público de adultos, essas histórias jamais perdem o seu encanto, sendo no entanto aconselhável que o narrador a estude previamente, conhecendo-a bem, a fim de ser capaz de transmitir todos os encantamentos contidos em cada trecho e em cada elemento da história.
É ainda relevante salientar que existem diferenças entre contar, ler e representar história, embora estas envolvam uma preparação e uma performance mais ou menos elaborada; a forma como se vai trabalhar, depende em muito do nosso estilo, do nosso objectivo e antes de tudo, da nossa sensibilidade, o narrador deve usufruir das suas capacidades e improvisação, do domínio de algumas técnicas de voz e expressão corporal bem como, mais uma vez, do aprofundado conhecimento da história e das suas personagens.
A subtileza é preferível ao exagero. Como afirma Busatto, “ o lobo mau não precisa falar grosso para demonstrar a sua ferocidade” Tudo acontece a seu tempo…a partir daí tudo se torna uma questão de paciência, experimentação e, também de ousadia por parte do narrador, que irá acertar e errar muitas vezes ao longo da sua trajectória, no entanto, se for essa a sua vocação, este encarnará a personagem uma vez que, para o verdadeiro contador de histórias, o acto é inseparável da vida.
Contar histórias não é um acto apenas intelectual, mas espiritual e afectivo; por isso, as melhores histórias são as que contamos espontaneamente, a partir do que carregamos na bagagem, pertencentes á cultura e experiência de vida, independentemente de qualquer pessoa estar possibilitado de contar histórias, pressupõe antes de tudo, a vontade de falar, a predisposição de doar sabedoria e conhecimento, de passar adiante do que se aprendeu; mais simplesmente ainda, contar histórias é aumentar o círculo e, mesmo na falta de uma fogueira ou do colo dos nossos avós, podemos faze-lo aqui e agora, partilhando as histórias, lançando fios invisíveis que nos unem numa só rede.
Na Educação de infância, este acto tradicional pode considerar-se um vínculo valioso, não apenas para proporcionar um momento lúdico e atractivo como também um momento de passagem, transmissão de actos e valores culturais á criança!
Texto enviado por:
Natércia Nunes