"Menino da minha escola"

Os pés descalços, quase nu,
A camisa a desfiar-se
E as calças rotas no cú.
Leva dentro da sacola
Uma lousa, dois ponteiros
E três livros já marcados
Do fumo dos candeeiros.
Dois cadernos, um tinteiro,
A atiradeira da caça,
Mais uma bola de trapos,
Um pião, uma baraça.
Seis azeitonas curtidas,
Uma sardinha salgada,
Um pedaço de pão duro,
É o lanche - sem mais nada!
Em direcção à casita,
Findas as aulas do dia,
Voa fogoso, ladino,
Em tremenda correria.
No curral está o rebanho
Que ele irá apascentar,
As lições são adiadas
Pr'à noite quando voltar.
Depois das lições estudadas,
Deita-se na sua cama,
Sonhando com coisas lindas
Desperta com os pés na lama.
Menino da minha aldeia,
Menino da Beira Serra,
Tu tens gravada nos olhos
A alma da minha terra!